A prevalência do fato físico sobre o fato psíquico como frenesi
A possibilidade de subordinar o eu a uma função do cérebro, e por essa via reduzir a emergência da consciência aos limites dos processos desse substrato material, não são questões que surgiram na contemporaneidade. Na verdade, o problema se atualiza desde a Grécia antiga, e em nossos tempos exterio...
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Format: | Article |
Language: | Portuguese |
Published: |
Universidade Federal do Ceará
2025-06-01
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Series: | Argumentos |
Subjects: | |
Online Access: | https://periodicos.ufc.br/argumentos/article/view/95584 |
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Summary: | A possibilidade de subordinar o eu a uma função do cérebro, e por essa via reduzir a emergência da consciência aos limites dos processos desse substrato material, não são questões que surgiram na contemporaneidade. Na verdade, o problema se atualiza desde a Grécia antiga, e em nossos tempos exterioriza sua renovação na promessa de que as neurociências demonstrarão, enfim, a causalidade e a identidade entre a consciência e a atividade neuronal. A força dessas promessas está na popularidade da concepção epistêmica que as impulsiona: todo fato psíquico deriva, necessariamente, de um fato físico. Já nos cursos de psicologia e metafísica no liceu de Clermont-Ferrand, Bergson coloca sob suspeita os fundamentos dessa relação unidirecional, que acabaria conduzindo a um paralelismo psicofísico ou ao epifenomenismo. A despeito das inúmeras tentativas de comprovação, essa concepção permanece indemonstrada, mas a convicção que lhe é subjacente não deixa de exercer seu efeito pathico sobre nós: mais que uma posição epistemológica, a crença na espacialização da psique se tornou uma posição ontológica, que fascina ao ponto de conseguir dissimular sua artificialidade. Dessa perspectiva, podemos pensar as expressões do materialismo que assegura e encoraja essa transformação como uma espécie de frenesi, através das quais uma tendência totalizante da nossa relação com o mundo se evidencia. Na esteira desse discurso aparentemente científico, o que sobressai é uma metafísica inconsciente de si mesma. Essa denúncia permanente nas obras de Bergson nos servirá como ponto de partida neste artigo, ao passo que as leis de dicotomia e do duplo frenesi serão nossas balizas no questionamento dessa redução do psíquico à matéria.
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ISSN: | 1984-4247 1984-4255 |