Pode um menor delinquente ser uma vítima da guerra? Os especialistas da Justiça de Menores francesa frente aos impactos psíquicos da Segunda Guerra Mundial
Por meio de uma análise qualitativa de dossiês da Justiça de Menores francesa, este artigo propõe um estudo de caso sobre a maneira como especialistas dos centros de observação (principalmente psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais) avaliaram adolescentes infratores com claros sinais de sofr...
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Format: | Article |
Language: | English |
Published: |
Universidade do Estado de Santa Catarina
2025-06-01
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Series: | Tempo e Argumento |
Subjects: | |
Online Access: | https://www.periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/26493 |
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Summary: | Por meio de uma análise qualitativa de dossiês da Justiça de Menores francesa, este artigo propõe um estudo de caso sobre a maneira como especialistas dos centros de observação (principalmente psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais) avaliaram adolescentes infratores com claros sinais de sofrimento psíquico decorrente dos bombardeios e da repressão racial da Shoah durante a Segunda Guerra Mundial e a ocupação nazista da França, que passaram por essas instituições entre 1945 e 1953. A análise dos dossiês de Angèle e Olivier, vítimas diretas dos ataques aéreos, assim como dos de Manès e Yann, dois adolescentes judeus fortemente afetados pelo genocídio, revelam uma profunda incompreensão dos especialistas em relação ao sofrimento desses jovens. Em alguns casos, o contexto da guerra foi completamente ignorado, ou então minimizado em favor de interpretações que reforçaram estereótipos ultrapassados sobre delinquência juvenil, preconceitos sociais ou arquétipos de gênero. Muitas vezes, os especialistas se declararam mesmo incompetentes para lidar com esses adolescentes, o que resultou na invisibilização de suas experiências juvenis da guerra, manifestadas na angústia registrada nas fontes analisadas. Conclui-se que, embora os centros de observação tenham sido idealizados como instituições modernas e científicas, voltadas a auxiliar o juiz a romper com o ciclo repressivo da Justiça de Menores francesa, que ingressou em uma nova era a partir de 1945, eles não estavam preparados para acolher esses adolescentes marcados pela guerra e pela repressão. Essas instituições acabaram, assim, por reforçar antigas nosografias psiquiátricas e os estereótipos da delinquência juvenil do período entreguerras.
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ISSN: | 2175-1803 |